Em 2021, houve no Brasil, pelo menos 316 mortes violentas de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo (LGBTI+). Esse número representa um aumento de 33,3% em relação ao ano anterior, quando foram 237 mortes. Os dados constam do Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil.
Entre
os crimes ocorridos no ano passado, 262 foram homicídios (o que corresponde a
82,91% dos casos), 26 suicídios (8,23%), 23 latrocínios (7,28%) e 5 mortes por
outras causas (1,58%).
O
dossiê, produzido por meio do Observatório de Mortes e Violências contra
LGBTI+, é resultado de uma parceria entre a Acontece Arte e Política LGBTI+, a
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Associação
Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos
(ABGLT).
Realizado
por meio de uma base de dados compartilhada entre essas três instituições, o
trabalho contém os registros dos casos encontrados em notícias de jornais,
portais eletrônicos e redes sociais. As violências ocorreram em diferentes
ambientes, como doméstico, via pública, cárcere e local de trabalho.
“Apesar
desse número já representar a grande perda de pessoas, apenas por sua
identidade de gênero e/ou orientação sexual, temos indícios para presumir que
esses dados ainda são subnotificados no Brasil”, divulgaram as entidades, que
apontaram a para a ausência de dados governamentais como desafio para
elaboração do dossiê.
Como
o levantamento depende do reconhecimento da identidade de gênero e da orientação
sexual das vítimas pelos veículos que reportam as mortes, muitos casos de
violências praticadas contra pessoas LGBTI+ acabam não entrando na
contabilização.
Perfis
mais violentados
Os
dois grupos que sofreram mais violência, reunindo 90,5% dos casos, foram os
homens gays (45,89%), com um total de 145 mortes; e as travestis e mulheres
trans (44,62%), com 141 mortes. As mulheres lésbicas representam 3,80% das
mortes (12 casos); os homens trans e pessoas transmasculinas somam 2,53% dos
casos (oito mortes).
Pessoas
bissexuais (0,95%) e pessoas identificadas como outros segmentos (0,95%)
tiveram 3 mortes cada grupo. Houve quatro pessoas cuja orientação sexual ou
identidade de gênero não foi identificado, representando 1,27% do total, com 4
casos.
A
idade das vítimas variou de 13 a 67 anos em 2021, sendo que a maioria das
mortes ocorreu com jovens entre 20 e 29 anos (96 casos, o que representa 30,38%
do total). As demais faixas etárias corresponderam às seguintes proporções: 22
pessoas com idade entre 10 a 19 anos
(6,96%);
68 pessoas entre 30 e 39 anos (21,52%); 36 pessoas entre 40 e 49 anos (11,39%);
21 pessoas entre 50 e 59 anos (6,65%); e 13 pessoas entre 60 e 69 anos (4,11%).
Em 60 casos (18,99%), não foi possível identificar a idade.
Onze
das vítimas eram adolescentes entre 13 e 17 anos. “Chamamos atenção para a
idade da pessoa mais jovem, que era uma adolescente trans de 13 anos, tendo se
tornado a mais jovem vítima de transfeminicídio no Brasil”, informou o dossiê.
A
avaliação das entidades é que o cenário geral de violência contra essa
população pouco mudou em relação a medidas efetivas de enfrentamento da
LGBTIfobia por parte do Estado. “Mesmo em um cenário onde alcançamos conquistas
consideráveis junto ao Poder Judiciário, percebemos a recorrente inércia do
Legislativo e do Executivo ao se omitirem diante da LGBTIfobia, que segue
acumulando vítimas e que permanece enraizada no estado e em toda a sociedade.”
Causa
da morte
Segundo
o dossiê, a maior parte das mortes ocorreu por esfaqueamento, com 91 casos
(28,8% do total), em segundo lugar vieram mortes por arma de fogo, com 83 casos
(26,27), seguida por espancamento, com 20 casos (6,33%), e asfixia, com 10
casos (3,16%). No total, foram identificadas 26 diferentes causas mortis de
LGBTI+ no país.
A
maioria das mortes ocorreu no período noturno, com 152 casos, o que representa
48,10% do total. Em 11,08%, as mortes foram em período diurno e, em 129 casos
(40,82%), o período não foi identificado. “Esse dado indica a relevância das
práticas profissionais – como a prostituição –, culturais e de lazer da
população LGBTI+ realizadas no período da noite, o que demanda maior atenção do
Poder Público na garantia da segurança desse grupo em situação de
vulnerabilidade”, ressaltou o dossiê.
As
regiões Nordeste e Sudeste tiveram 116 e 103 mortes violentas, respectivamente.
As demais regiões ficaram em torno de 30 mortes cada uma: 36 no Centro-Oeste,
32 no Norte e 28 no Sul. Os estados que apresentaram maior número de mortes
foram São Paulo (42), Bahia (30), Minas Gerais (27) e Rio de Janeiro (26), os
quatro estados mais populosos do Brasil.
Suicídio
O
levantamento revelou que o maior número de casos de suicídio ocorreu entre
travestis e mulheres trans, com 38,46% dos casos (10 pessoas), e homens gays,
com 30,77% do total (8). Em seguida, estão os homens trans e as pessoas de
outros segmentos, com dois casos cada.
De
acordo com as entidades que elaboraram o dossiê, o resultado “evidencia
possíveis danos causados pela LGBTIfobia estrutural, que impacta
significativamente a saúde mental das pessoas, podendo levar a intenso
sofrimento ou mesmo à retirada da própria vida por pessoas em situação de
vulnerabilidade”.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: Agência Brasil
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