O Brasil é um dos cinco maiores emissores do mundo de gás metano - que é poluente e contribui para o efeito estufa - e a principal causa para isso é a pecuária. Mas a tecnologia tem fornecido soluções para diminuir o impacto desse setor. Uma delas é a mudança de dieta, com a inclusão de aditivos.
No
país, 71% da emissão de metano vem da pecuária, aponta o Observatório do Clima.
O governo se comprometeu a diminuir a produção do gás em 30% até 2030 na COP
26, realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro do ano passado.
DE
ONDE VEM: abacate, café, caju... Série mostra a origem de alimentos consumidos
no país
O
metano faz parte do sistema digestivo dos animais ruminantes, que são aqueles
que podem consumir alimentos à base de plantas, fermentando-os em um estômago
especial para isso.
Durante
esse processo de fermentação, o metano é gerado e uma parte é liberada mais
tarde pelo arroto, por gases e pelas fezes, por exemplo.
A
produção do gás é acentuada quando o animal não tem acesso a um alimento de
qualidade.
No
período chuvoso, quando os pastos têm melhores condições, a emissão de metano é
cerca de nove vezes menor do que no período seco, aponta pesquisa de Marcílio
Nilton Lopes da Frota, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Meio-Norte.
De
acordo com o estudo, quanto menos fibroso e mais digestível for o alimento
consumido, menos metano será produzido. Nessa situação, o animal ganha mais
peso, leva menos tempo para ser abatido e, consequentemente, diminui o impacto
no meio ambiente.
Por
esta razão, a alimentação balanceada é fundamental para diminuir a produção de
metano. Além disso, os aditivos reforçam esse processo, ao usarem elementos
químicos para auxiliarem a nutrição animal e combaterem de diferentes formas a
emissão do metano.
Cada
aditivo funciona diferente. Eles são compostos por elementos químicos
misturados em algum meio de transporte, que pode ser o milho da ração, por
exemplo, explica o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Sergio Raposo de
Medeiros.
Um
destes aditivos é o 3-nitrooxipropanol ou Bovaer, aprovado no ano passado na
Europa, que, segundo Medeiros, poderia atingir redução de até 90% da produção
de metano. O produto é descrito pelo pesquisador como “um míssil teleguiado” ao
atingir e eliminar o metano.
Um
produto mais antigo é o ionóforo, usado há 40 anos para diminuir matéria-prima
na digestão. “Então, antes de ser metano, o que a gente tem no rúmen é
hidrogênio (H2). E esse hidrogênio vira metano e o objetivo é diminuir a
quantidade de H2, para as bactérias metanogênicas irem reduzindo o metano”,
explica Medeiros.
O
aditivo é colocado em pequenas quantidades na ração animal, se limitando a uma
ou duas gramas por cabeça.
Existem
2 benefícios principais ao usar estes compostos, aponta o pesquisador da
Embrapa:
- diminuir
a produção de metano por kg de carne;
- reduzir
danos mecânicos a cada kg de alimento que o animal come, fazendo com que ele
ganhe mais peso.
Este
último ponto se refere a uma outra problemática da produção de metano: é uma
perda energética para o gado, derrubando também o seu desempenho.
A
emissão de metano representa perda de energia bruta do alimento ingerido que
pode variar entre 6% e 12%, segundo Marcos Cláudio Rogério, pesquisador da
Embrapa Caprinos e Ovinos.
Há
também outra vantagem: conforme os animais engordam mais rapidamente, é preciso
menos cabeças para produzir uma boa quantidade de carne e há menos tempo até o
abate - diminuindo também a quantidade e o tempo de emissão de metano.
Custa
mais?
Por
ser um item a mais na alimentação do rebanho, o aditivo vai aumentar os custos
de produção em cerca de 10%, explica Sergio Medeiros.
Mas,
como o aditivo pode fazer com que o animal ganhe mais peso, por causa da
economia de energia, o criador pode lucrar mais. O pesquisador aponta que o
ideal é que a quantidade de carne também seja elevada em 10%, fazendo os novos
custos se pagarem.
Uma
dieta balanceada pode não ser o único caminho para tornar a pecuária mais
ecológica. Cientistas do mundo todo experimentam outros métodos que poderão ser
usados no futuro.
O
pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste destaca um estudo desenvolvido na Nova
Zelândia em que, através de uma vacina, o próprio organismo do animal irá
diminuir a emissão de metano, com a produção de anticorpos.
Há
também estudos na Embrapa que focam em entender o microbioma, descobrindo quais
micro-organismos presentes no alimento favorecem a produção de metano.
Ao
identificar em qual situação o gado irá desenvolver menos gás, os cientistas
focam em reproduzir o cenário, como por meio de manipulação da dieta.
“É
como se fosse uma fotografia, por exemplo, você tem uma forragem melhor e outra
pior, a gente vai ver qual é o retrato de cada uma na sua composição de
micro-organismo e a gente vai achar aqueles (micro-organismos) que são mais
ligados à produção de metano ou não”, exemplifica Medeiros.
Outro
investimento é o melhoramento animal. Através de uma seleção genética, os
pesquisadores vão identificar quais animais produzem menos metano e os
reproduzem entre si. Isso é possível porque o microbioma do rúmen animal é
transmitido de geração em geração, aponta o pesquisador.
“Eu
meço o metano, a resposta - que a gente chama de fenotípica -, exponho todos os
animais à mesma situação, escolho os que produziram menos metano e cruzo com a
fêmea. Depois, checo, nos animais que nasceram, quais que estão fixando esses
genes e vou selecionando”, explica.
Porém,
o resultado final ainda vai demorar uns bons anos, pois a herdabilidade do
gado, a capacidade de herdar essas características, é de baixa para média, diz.
Como
compensar a emissão de gases
Também
existem formas de o criador reduzir o impacto ambiental do rebanho ao
sequestrar o gás carbônico com o sistema de Integração Lavoura Pecuária e
Floresta (ILPF).
A
ILPF consiste, basicamente, em uma produção composta por diferentes itens em
uma mesma área. O gado, por exemplo, pode ser criado em um ambiente com a
lavoura de milho e com a área de floresta.
Com
este método, há um ciclo em que o gás carbônico, ou CO2, é retirado da atmosfera
pela floresta e pelas raízes das pastagens. Então, apesar de o animal continuar
emitindo metano, há esta compensação.
A
ILPF gera um aumento da diversidade com consequente crescimento da
biodiversidade no solo e tendência de redução das emissões de gases do efeito
estufa.
“A
gente brinca que é uma situação ganha, ganha, ganha, porque ganha o ambiente,
porque vai ter menos metano; ganha a sociedade, porque tem mais carne
produzida, evidentemente ajuda a ter disponibilidade do produto e o criador tem
uma produção de maior ganho e mais estabilidade”, diz Medeiros, da Embrapa
Pecuária Sudeste.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
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