A Justiça do Trabalho bloqueou bens no valor de R$ 1 milhão para garantia das verbas rescisórias e dos danos morais pagos a doméstica Madalena Silva, de 62 anos. A idosa foi resgatada por auditores-fiscais do trabalho do Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) após trabalhar 54 anos sem receber salários.
Doméstica foi resgatada de trabalho análogo à escravidão na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia
A
juíza também determinou o pagamento de um salário mínimo até o julgamento da
ação principal e o bloqueio dos bens.
A
história de Madalena Silva ainda ganhou novo capítulo nesta sexta-feira (29).
Ela tem uma carta de 2018, assinada pelos ex-patrões, onde estes acusam a filha
deles de ter feito empréstimos no nome de Madalena. O homem fez acusações e
disse que esta teria sido insensível por roubar a poupança da idosa. Ao longo
da carta, ele citou que foi vítima de golpes da própria filha. O ex-patrão diz
que a filha deve restituir Madalena.
Segundo
apuração da TV Bahia, o ex-patrão de Madalena morreu em 2020. De acordo com o
MTP, além dos empréstimos, a filha dos ex-patrões ainda teria ficado com R$ 20
mil da aposentadoria da doméstica.
A
equipe de reportagem ainda entrou em contato com o advogado da ex-patroa de
Madalena, que disse ela só vai se pronunciar no processo administrativo e em
caso de um possível processo judicial, porque é idosa e nunca respondeu a
nenhum processo criminal. Já a filha dela, Cristiane Seixas Leal, não atendeu
às ligações.
Entenda
o caso
Segundo
o Ministério do Trabalho e Previdência (MPT), Madalena trabalhou por 54 anos
sem receber salários, e sendo maltratada pela família para quem trabalhava em
Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.
Atualmente,
Madalena da Silva recebe seguro desemprego e um salário mínimo da ação cautelar
do Ministério do Trabalho e Previdência (MPT).
Madalena
relatou os maus tratos sofridos durante os anos de trabalho.
“Eu
estava sentada na sala, ela passou assim com uma bacia com água e disse que ia
jogar na minha cara. Aí eu disse: ‘Você pode jogar, mas não vai ficar por isso.
Aí ela disse: ‘Sua negra desgraçada, vai embora agora’, disse Madalena.
“Era
um sábado, 21h, chovendo e eu não sabia para onde ir”, concluiu.
Ainda
durante a entrevista onde contou sua situação, Madalena chorou ao tocar na mão
da repórter da TV Bahia, Adriana Oliveira. Durante a reportagem, a doméstica,
emocionada, desabafou com a jornalista.
"Fico
com receio de pegar na sua mão branca", disse Madalena.
A
repórter questionou a frase forte dita pela doméstica e estendeu as mãos para
ela. "Mas por quê? Tem medo de quê?".
A
doméstica então falou que achava feio quando colocava a mão dela em cima de uma
mão branca. "Porque ver a sua mão branca. Eu pego e boto a minha em cima
da sua e acho feio isso", explicou.
Adriana
Oliveira abraçou a idosa, a elogiou e ressaltou a importância da igualdade
racial e de gênero.
"Sua
mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é
diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo
respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você", destacou a
jornalista.
Projeto
de resgate
Neste
primeiro ano do Projeto de Combate à Exploração do Trabalho Doméstico, 550
empregadores foram fiscalizados na Bahia. O MTP informou que 90% das denúncias
aconteceram em Salvador.
A
pena para quem submete trabalhadores à situação análoga à escravidão é de 2 a 8
anos de reclusão. No entanto, até o momento nenhum empregador "sujo"
ficou preso na Bahia.
O
procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) afirma que há
esperança que a punição ocorra no mesmo ritmo de crescimento de trabalhadores
resgatados. Em 2021, o número cresceu 168% em relação à 2020.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
Nenhum comentário
Postar um comentário