Com palavras diretas e perturbadoras, o premiê da Bulgária deu a medida do contraste na acolhida europeia ao êxodo de ucranianos, que avança pelos países vizinhos na maior velocidade já registrada desde a Segunda Guerra. “Essas pessoas são europeias, são inteligentes, são educadas. Esta não é a onda de refugiados a que estamos acostumados, de pessoas com passado obscuro, que poderiam ter sido até terroristas”, explicou Kiril Petkov.
Refugiados ucranianos cruzam fronteira com a Polônia — Foto: AP Photo/Czarek Sokolowski
A
hospitalidade se estende à União Europeia, que acionará, pela primeira vez, uma
lei de proteção temporária existente desde o conflito na antiga Iugoslávia,
para estender o status de residência aos imigrantes sem que eles tenham que
enfrentar os trâmites burocráticos de asilo. Isso lhes garantirá a permanência
em solo europeu por até três anos e acesso à educação, moradia e mercado de
trabalho.
Mais
de 1,5 milhão já cruzaram fronteiras de vizinhos em apenas 10 dias de guerra,
segundo o Acnur. Numa previsão pessimista, a agência de refugiados da ONU
estima que esse número rapidamente vai ultrapassar os 4 milhões, ou seja, 10%
da população do país atacado pela Rússia. A maioria do contingente é de
mulheres e crianças, já uma lei marcial impede os homens entre 18 e 60 anos de
deixar o território ucraniano.
Trata-se
de um povo amigo, definiu sobre os ucranianos o ultranacionalista premiê
húngaro, Viktor Orbán – o mesmo que na década passada investiu 120 milhões de
euros para erguer uma cerca em sua fronteira e barrar imigrantes e aprovou um
pacote de medidas que castigam prisão os indivíduos e grupos que ajudassem
refugiados.
Países
que hoje acolhem os fugitivos da guerra de Putin têm em seu histórico políticas
hostis e a retórica xenófoba e racista para migrantes do Oriente Médio e da
África, também fugitivos de conflitos sangrentos.
Na
crise de 2015, Hungria, República Tcheca, Romênia e Eslováquia lideraram a
ruptura do bloco europeu ao resistirem à proposta de cotas migratórias para a
redistribuição de imigrantes que chegavam ao continente pelo Mediterrâneo em
embarcações precárias e lotavam campos da Grécia e da Itália.
A
Polônia, que recebeu nos últimos 11 dias mais da metade dos refugiados
ucranianos, barrou no fim do ano passado milhares de afegãos, presos na
fronteira de Belarus, por uma manobra de retaliação do ditador Alexander
Lukashenko às sanções europeias. O governo de Andrzej Duda ergueu cerca de
arame farpado e aprovou legislação para expulsar todos que cruzassem a
fronteira irregularmente.
Como
criticou o colunista Kenan Malik, do “Observer”, os refugiados da Ucrânia fazem
parte “do modo de vida europeu”, descrito na semana passada pela presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Os do além-mar, não. “É assim que os
limites são marcados para delimitar a empatia e a solidariedade”, resumiu ele
em artigo publicado no jornal britânico “The Guardian”.
Da
forma mais trágica, a guerra na Ucrânia fornece à Europa uma chance de
demonstrar seu compromisso com valores humanitários e com a proteção dos
refugiados, mas também reflexão e autocrítica sobre a dinâmica que moldou, até
agora, a recepção a imigrantes.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
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