A
ressocialização é um processo importante, longo e complexo, que envolve a
vontade do indivíduo, a sociedade e o estado. A realidade da população
carcerária, tende a mudar quando este processo se torna efetivo. 80% dos
detentos que passam pela ressocialização não voltam à criminalidade, de acordo
com dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), que
também indica que entre 2019 e 2021, houve uma redução de 28,51% no número de
mulheres encarceradas, de 831 detentas para 594. Destas, 80% das mulheres que
estão presas estudam e/ou trabalham.
Costura é uma das atividades profissionais que podem ser aprendidas no sistema penitenciário do Pará (Thiago Gomes / O Liberal)
Raquel
Lima, coordenadora de trabalho e produção da Diretoria de Reinserção Social da
SEAP, afirma que o principal objetivo da reinserção social é promover a mudança
de vida dos custodiados, por meio do trabalho e educação. Em 2021, destaca, que encerrou o ano com
2.691 detentos no geral trabalhando no sistema penal, entre voluntários e
remunerados e com 751 cursos profissionalizantes realizados para os internos.
Com isso, ela acredita que o reflexo está no número de reincidência. A cada 10
pessoas privadas de liberdades que são assistidas, apenas duas reincidem ao
sistema, quando elas não são assistidas, oito vão reincidir.
"Existe
uma diferença de 80% no índice de reincidência. Aqui no CRF, onde têm mulheres
custodiadas, nós temos três trabalhos principais: da cooperativa (Coostafe), o
da fábrica de uniformes e o de panificação. São três unidades produtivas que
buscam reinserção dessas mulheres dentro do cárcere. Na Coostafe realizamos o
trabalho de artesanato, na de uniformes fazemos uniformes para todos os
custodiados do estado e na de panificação, atendemos todos os custodiados da
região metropolitana de Belém que estão dentro do sistema", explicou.
Presidente
da presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB explica fatores da
ressocialização
Brenno
Morais Miranda, advogado criminalista, mestre em segurança pública e
conselheiro seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA) e presidente da
Comissão de Segurança Pública destaca que a ressocialização envolve fatores
intra e extra muros. A mudança deve ocorrer primeiramente pela vontade do
encarcerado, disposição para aderir ao processo de mudança. Contudo, o estado
precisa implementar programas de formação educacional e profissional. Mas ele
argumenta que há outras necessidades, porque é preciso agir junto à empresas e
órgãos estatais para abertura de vagas para que sejam recebidas no mercado.
"Dentro
da nova sistemática econômica é salutar que se promova ações que levem ao
empreendedorismo, pois também não há vagas para todos. É preciso preparar essa
pessoa para o momento de saída do cárcere. E isso é complexo. Os estudos
nacionais apontam justamente isso, que a pessoa colocada efetivamente em
programas de ressocialização tendem a
não reincidir. Mas para que esse cenário se concretize é necessário
aliar os programas a uma mudança social, pois a sociedade ainda tem grande
preconceito com a pessoa que passou pelo cárcere. O que dificulta ainda mais a
ressocialização, por isso a complexidade", concluiu.
Trabalho
e educação fazem parte da estratégia de ressocialização
Leilane
Barbosa Sales, 37 anos, está há 5 na Coostafe dentro do CRF. Ela conta que é
natural de Marabá e veio transferida a Belém e devido ao aprisionamento, chegou
com a saúde mental debilitada e pensou que não resistiria. "Quando eu
cheguei aqui, estava em estado avançado de depressão, por todo o sofrimento do
cárcere. Pensei que seria o meu fim. Mas quando eu conheci a cooperativa, vi
que era diferente. Aprendi a fazer artesanato, que eu gosto muito. Conheci
muitas pessoas, diferente daquilo que se imagina do cárcere como 'sombrio e de
pessoas ruins'. Mas não, são seres humanos que erraram como eu, mas estão aqui
tentando uma forma de sobrevivência, sustentar suas famílias e se reintegrarem
à sociedade", ressaltou.
"Eu
tenho duas filhas, a separação da minha família foi muito difícil",
recorda Leilane, ressaltando que a memória faz parte dos momentos mais
difíceis. Ela conta que o trabalho dentro da cooperativa a ajudou a superar o
que eu estava sentindo e pretende, quando eu sair, continuar como artesão e
levar ações de profissionalização e assistência às crianças e mulheres da sua
cidade, para que elas tenham perspectiva e não passem pelo o que ela passou.
"Ajudar as pessoas da minha cidade com trabalhos sociais, com esses
conhecimentos. Ensinar as crianças e pessoas que precisam... Eu gostaria também
que a sociedade pudesse olhar para as pessoas que estão em situação de cárcere,
como seres humanos. Eu sei que existem pessoas que são difíceis, mas até elas
têm consciência, de ser abraçadas e levar esses ensinamentos lá pra fora",
completou.
Aretha
Corrêa, 31 anos, há 8 anos faz parte da cooperativa e aprendeu a fazer biscuit,
além de ingressar no ensino superior, onde cursa o 3º semestre de pedagogia.
Como presidente da cooperativa, acredita que o foco é trabalhar o posterior ao
cárcere, para que todas possam aprender e melhorar para não voltar ao mundo do
crime.
"Quando
eu cheguei aqui, não sabia nada. Vi no biscuit, na arte plástica, uma
oportunidade de me sustentar lá fora. Aprendi a ter equilíbrio profissional e
pessoal, a cooperação. Percebi com as vendas que é um trabalho bem aceito, eu
tenho um bom acabamento. Ao sair eu pretendo trabalhar com o artesanato, mas
também dar um retorno a sociedade, voltar as unidades prisionais como exemplo e
palestras. Curso pedagogia, então, eu procuro trazer para as demais colegas, o
que eu aprendo na faculdade, pois muitas chegam com os estudos incompletos ou
têm dificuldades na escola aqui.", ressaltou.
Luciana
Tuane, 32 anos, está há três meses na fábrica que confecciona os uniformes para
todas as unidades prisionais. Também destaca a disciplina como um ponto
positivo que está aprendendo e que agora tem uma profissão. "O projeto me
fez acreditar que há uma esperança para mulheres privadas de liberdade.
Passamos a maior parte do tempo dedicadas ao trabalho, confeccionando nossos
próprios uniformes. Ter ética no trabalho, que é algo que priorizamos. Eu fiz o
curso com o pensamento de me capacitar, para lá fora poder trabalhar, que é uma
demanda do mercado de trabalho", observou.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: O liberal
Nenhum comentário
Postar um comentário