No meio da selva amazônica, duas mães Yanomami com os filhos pequenos no colo deixam a comunidade Macuxi Yano em direção aonde viram o helicóptero seguir. Debaixo do sol forte, elas remam em uma canoa por duas horas, em busca de ajuda para as crianças, que ardem em febre.
A comunidade Heweteu II, na Terra Indígena Yanomami, é uma das mais de 370 aldeias isoladas geograficamente na floresta amazônica — Foto: Valéria Oliveira/g1
Desoladas,
as duas mães não escondem a angústia. Uma delas chora. Se de helicóptero a ida
até o posto levaria 25 minutos, a pé, são 15 dias de caminhada pela floresta.
O
posto em Surucucu, referência na região por ser a maior unidade de atendimento
dentro da terra indígena, se resume a um barracão de madeira de chão batido e
com estrutura precária.
Na
unidade, uma outra mulher e o filho, também de Macuxi Yano, são atendidos
depois de cinco dias atrás de socorro. A mãe, Maria Cláudia Yanomami, de 20
anos, chora ao relembrar a busca cansativa por assistência para o filho doente,
Leo, de 2 anos. Nem todos conseguem como eles. Na semana anterior, um pajé da
mesma comunidade dela morrera de malária por falta de atendimento.
As
cenas evidenciam a precariedade na assistência de saúde nas comunidades na
Terra Yanomami, atingida pela desnutrição e malária - situação em grande parte
agravada pelo garimpo ilegal.
Com
mais de 370 aldeias e quase 10 milhões de hectares que se estendem por Roraima,
fronteira com a Venezuela, e o Amazonas, a reserva Yanomami, a maior do país,
enfrenta problemas tão grandes quanto a sua extensão territorial.
Ao
todo, são 28 mil indígenas que vivem isolados geograficamente em comunidades de
difícil acesso, mas que, em grande parte, já sofreram alguma intervenção de
fora, com a ocupação de não indígenas, como é o caso dos garimpeiros -
estimados em 20 mil.
Durante
quatro dias do mês de outubro o g1 acompanhou equipes do Fantástico e
percorreram as comunidades Heweteu I, Heweteu II e Xaruna, que ficam no coração
da floresta e estão entre as mais vulneráveis da região.
Menino Yanomami com costelas aparentes: 7 anos e 11 Kg; o ideal para a idade é 23 Kg, mais que o dobro — Foto: Valéria Oliveira/g1
O
Condisi-YY é um órgão oficial, mas com autonomia, a quem compete fiscalizar as
ações de saúde na região, de responsabilidade do Distrito Sanitário Especial
Indígena Yanomami (Dsei-Y). O Dsei, por sua vez, é subordinado à Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde.
Em
um cenário dramático, a reportagem registrou cenas inéditas e exclusivas de
crianças extremamente magras, com quadros aparentes de desnutrição e de
verminose, além de dezenas de indígenas doentes com sintomas de malária nas
três comunidades visitadas, como em Heweteu II.
O
procurador do Ministério Público Federal em Roraima, Alisson Marugal, ao
analisar o material, classificou as imagens de "chocantes".
"São
imagens chocantes e demonstram muito bem a realidade vivida pelo povo Yanomami.
São imagens que não conseguimos observar por documentos, relatórios. Só o
trabalho da imprensa consegue revelar o que acontece no interior da floresta.
Os Yanomami estão sozinhos e invisibilizados."
O
presidente do Condisi-YY, Júnior Herukaki Yanomami, que tem contato intenso com
as comunidades, resume o drama:
"A
saúde Yanomami está em colapso".
No
entanto o coordenador do Dsei-Y, Rômulo Pinheiro, o distrito sanitário
responsável por garantir a prestação de saúde aos Yanomami, minimiza a
situação. Segundo ele, essa "não é uma realidade em toda a reserva".
Indicado
pelo Ministério da Saúde para responder aos questionamentos da reportagem, ele
atribui os problemas à complexa logística da Terra Yanomami e diz que
"trabalha para somar". Ele atribui a responsabilidade a outros entes
federados, embora a legislação diga que a saúde indígena compete exclusivamente
à União.
"Sabemos
que temos que melhorar, sim. Muita coisa tem que ser melhorada. Estamos
trabalhando diuturnamente para melhorar essa situação, principalmente dessas
regiões onde a reportagem foi feita. Estamos trabalhando, solicitando de outros
órgãos, porque a saúde como um todo é tripartite, é competência da União, dos
estados e dos municípios. Então, devemos todos, unidos, tentar combater esses
problemas lá instalados", afirma Pinheiro.
No
entanto, segundo o advogado do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Ivo Cípio
Aureliano, a responsabilidade da saúde indígena compete apenas à Sesai. Quando
a situação é grave e o indígena precisa receber atendimento fora da reserva, o
hospital para onde ele é levado pode até estar sob gestão estadual ou
municipal, mas ele continua sob a guarda da Sesai.
"A
atenção diferenciada à saúde dos povos indígenas é um direito conquistado na
Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei nº 9.836 de 1999,
conhecida como Lei Arouca, que estabelece o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
do SUS com base nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, sob a
responsabilidade do governo Federal. A criação da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai), no ano de 2010, foi resultado disso", resume Aureliano.
O
Ministério da Saúde também afirma ter destinado R$ 216 milhões à saúde Yanomami
desde 2019. O montante foi para aquisição de insumos, bens, medicamentos,
contratação de pessoas, entre outros.
Arlete Yanomami e os filhos doentes: 'estou sem esperança' — Foto: Valéria Oliveira/g1
A
desnutrição infantil, de acordo com servidores da saúde que atuam no polo base
de Surucucu, está diretamente ligada à malária e ao garimpo.
O
avanço da extração ilegal de ouro contamina rios e destrói recursos naturais da
floresta, afugentando a caça. Doentes, os adultos não conseguem buscar comida
para a família ou cultivar plantações, o que impacta na dieta das crianças, as
mais fragilizadas.
O
isolamento geográfico e a falta de comunicação com as autoridades deixam as
comunidades ainda mais vulneráveis. Ironicamente, é aos invasores que os
indígenas recorrem quando, no limite, precisam de socorro e não o encontram.
Como
não falam português, eles se valem de mímicas para vencer a barreira do idioma
e explicar que necessitam de atendimento. Os garimpeiros, então, usam celular
com internet via satélite para contatar os postos de saúde.
Foi
o caso do bebê Leo, atendido em Surucucu:
"Ele
está há dias com tosse, diarreia, febre. Não come direito e não anda por conta
da fraqueza. O socorro demorou muito para chegar, a gente solicita, solicita e
nada. Tive que procurar garimpeiros, que ligaram para pedir ajuda. Estou muito
preocupada sem saber como salvar meu filho", conta a mãe, Maria Cláudia.
A
indígena, a propósito, mesmo não falando uma palavra na língua portuguesa, tem
esse nome por uma razão comum na Terra Yanomami: para facilitar na
identificação, profissionais da saúde ou, às vezes, até garimpeiros, acabam
escolhendo, informalmente, nomes em português para os Yanomami, que passam,
então, a adotá-los.
Estrutura
precária
Maria
Cláudia e o filho deveriam ter sido atendidos no posto de saúde de Parima, mais
próximo da comunidade onde vivem. No entanto, a unidade estava fechada havia
duas semanas. Assim, tiveram que aguardar pela remoção de helicóptero para
Surucucu, polo de referência que atende a toda a reserva.
É
lá que fica a aeronave, acionada constantemente para buscar indígenas doentes.
Diante de tantos chamados, os profissionais de saúde passam o dia tentando
organizar as remoções entre os casos graves e os que podem esperar um pouco
mais.
"Tinha
uma criança de uma comunidade próxima à minha que não conseguiu chegar a tempo
de pegar o helicóptero. Não sei como ela vai ficar", diz Maria Cláudia,
acrescentando que a situação era semelhante à de Leo.
Tanto
mãe quanto filho foram diagnosticados com malária. Ela, com falciparum, a forma
mais grave da doença. Ele, com malária mista (vivax e falciparum) e suspeita de
pneumonia e pesando 9 Kg, quatro a menos do considerado ideal para a idade.
Com
as costelas aparentes, febre alta e coriza, o menino mal conseguia ficar em pé.
Ambos foram deixados no galpão-enfermaria junto a outros indígenas. Ali
passariam as próximas noites em redes improvisadas que funcionam como leitos --
nenhuma delas com mosquiteiro, o que poderia ajudar a manter longe insetos,
como os mosquitos da malária.
Com
muitas ripas de madeira empenadas pela umidade e sol, as paredes da enfermaria
de Surucucu têm frestas em vários pontos. No chão do barracão, uma fogueira
ainda termina de arder em meio a cinzas, folhas, poeira e sujeira.
"Esse
é o melhor posto da região. Com a melhor estrutura, é o posto referência da
Terra Yanomami", garante um servidor que havia acabado de chegar para
cumprir a escala de 30 dias na unidade.
Na
data da visita da reportagem, o local contava com apenas cinco profissionais de
saúde: um médico, um enfermeiro e três técnicos em enfermagem. Eles têm que se
desdobrar para atender o fluxo de pacientes e têm que se virar com o que tem de
remédio. É comum faltarem itens básicos, como soro, esparadrapo, dipirona e
medicamento para malária.
"É
tudo improvisado, visando salvar as vidas", desabafa um dos servidores.
A
malária, aliás, está entre as principais ocorrências atendidas, ao lado de
casos de desnutrição, verminose, pneumonia, picada de cobra e covid. Quando o
paciente não se recupera e a situação se agrava, ele é transferido para a
capital, Boa Vista.
Foi
na região de Surucucu que, no início do ano, sete crianças morreram com
diarreia e vômito, segundo o Ministério da Saúde. Elas tinham entre sete meses
e um ano. O Condisi-YY, no entanto, contesta e afirma que foram 10 mortes e que
as crianças tinham sintomas de Covid.
Desnutrição
em toda parte
O
baixo peso de Leo, atendido em Surucucu, reflete a situação de muitas outras
crianças Yanomami naquela região. Na comunidade Xaruna, onde há cerca de 150
pessoas, ao menos 30 crianças desnutridas, com costelas visíveis sob a pele,
também carregam no corpo franzino sintomas da malária: febre alta, anemia e
calafrios, além de verminose.
Às
margens do rio Parima, a comunidade, que também deveria ser atendida pelo polo
base de Parima, não recebia equipe de saúde havia ao menos um ano. Lá, os
indígenas têm como vizinhos garimpeiros ilegais que se firmaram em acampamentos
bem próximos.
Na
mesma localidade, em junho do ano passado, dois jovens indígenas, de 20 e 24
anos, foram assassinados a tiros por garimpeiros.
Além
disso, na mesma região, dois meninos, de 4 e 5 anos, morreram ao serem sugados
por uma draga usada no garimpo ilegal. Eles eram primos e sumiram na água turva
de lama do rio Parima. Os corpos só foram encontrados depois.
"A
gente sofre aqui com muita malária, falciparum e vivax. Adultos, crianças,
mulheres. Estamos sem assistência de saúde há muitos meses. A última vez que
equipes de saúde estiveram aqui, só fizeram testes de malária e não retornaram
mais. Por causa da falta de saúde, há cinco dias, perdemos duas crianças. A
gente quer saber por que a equipe de saúde não vem até nós. Já sofremos
muito", queixa-se o líder de Xauruna, Pedrinho Yanomami.
Os
dois óbitos citados por ele, no entanto, até a ida do Considi-YY, não tinham
entrado nas estatísticas do Ministério da Saúde, o que indica que o problema
pode ser maior e mais abrangente.
"As
crianças estão magras porque estão muito, muito, muito doentes. Nós temos
alimentação, plantações, mas elas não conseguem comer", diz.
Segurando
uma urna funerária com as cinzas de uma das crianças e rodeado por dezenas de
pessoas doentes, Pedrinho deixa transparecer uma enorme tristeza ao fazer
questionamentos para os quais não tem respostas: "Como posso ajudar minha
comunidade? A quem posso recorrer? Fico olhando as pessoas doentes e me
pergunto se há como melhorar".
A
dor do desalento
Deitada
em uma rede instalada na xapona, moradia coletiva onde vivem os Yanomami, a mãe
Arlete Yanomami, de Xaruna, amamenta o filho de dois anos, a fim de acalentá-lo
pela dor no corpo, enquanto embala o mais velho, de 7 anos, também doente e com
febre.
Arlete
carrega no olhar a descrença por ver, dia a após a dia, a saúde dos filhos
piorar e não ter a quem recorrer. No rosto, a tinta preta simboliza o luto das
mães das duas crianças que morreram recentemente na comunidade.
"Meus
filhos estão doentes com febre, não conseguem se alimentar porque estão fracos.
Faz muito tempo que espero o pessoal da saúde aqui. Estou sem esperança para o
meu povo e para os meus filhos".
Longe
dali, nas comunidades Heweteu I e II, distantes uma da outra cerca de uma hora
de caminhada na floresta, a situação não é diferente. Os líderes Mineiro e
Nádia Yanomami reiteram o abandono em que vivem: "Estamos sobrevivendo
sozinhos".
Desnutrição
Até
agosto, 54% de crianças Yanomami estavam com baixo peso e muito baixo peso --
com risco de evoluir para a morte, conforme dados informados pelo Dsei-Yanomami
ao MPF em um inquérito civil que apura ações da Sesai e do Distrito Sanitário
"quanto à subnutrição infantil, ao desabastecimento de gêneros
alimentícios nas Unidades Básicas de Saúde e à falta de profissionais
nutricionistas".
Quando
há o agravamento do quadro nas comunidades, as crianças são removidas de avião,
geralmente de Surucucu, até a capital, Boa Vista, para tratamento no Hospital
da Criança.
Neste
ano, até julho, que são os dados disponíveis, a unidade tinha atendido 49
crianças em situação grave -- o número já quase se equiparava aos 54 casos
registrados em todo o ano passado.
Entre
essas crianças estavam um menino de 10 anos e pesando apenas 8 kg, outro de 9
anos, com 10 kg e uma menina de 8 anos, pesando 12 Kg, cuja foto chocou o país,
em maio deste ano.
No
total, de 2016 a 15 de julho de 2021, 485 crianças da Terra Yanomami haviam
sido atendidas com desnutrição. Dessas, 400 eram menores de cinco anos
(82,47%).
Entre
os anos de 2016 e 2020, foram registradas 85 mortes por desnutrição na Terra
Yanomami. Os dados são do Ministério da Saúde, fornecidos via Lei de Acesso à
Informação. Desse total, 60% foram óbitos de crianças de até 10 anos. Este ano,
já são três registros oficiais de morte pela doença.
"[A
situação] é gravíssima. Persiste há muitos anos, mas, hoje, encontramos essa
situação extremamente grave, caótica e que requer um grande compromisso
nacional com o povo Yanomami e Ye'kuana", afirma o procurador Marugal.
Na
análise dele, todos os problemas que permeiam a Terra Yanomami têm relação com
o garimpo, em especial doenças como a malária e desnutrição de crianças.
"A
invasão garimpeira traz um grande prejuízo à saúde, porque o garimpo é um
grande vetor de malária, um vetor que acaba influenciando na subnutrição e
demais mazelas da Terra Yanomami. Então, a primeira lição, e a mais básica,
para que se garanta a proteção à vida e à saúde, é a retirada como um todos do
garimpo na Terra Yanomami. Em segundo, precisa investir de maneira inteligente
na saúde", sugere.
Atualmente,
o MPF tem 21 procedimentos em andamento acerca da Terra Yanomami, incluindo as
investigações sobre os recentes ataques de garimpeiros, omissão de socorro,
mortes de crianças e a ação que resultou na obrigação do governo federal a
retirar invasores.
Malária
Dados
fornecidos ao MPF pela Secretaria de Vigilância em Saúde mostram que, em 2020,
ocorreram 140.974 casos de malária no país. Desses, 45.811 diagnósticos foram
registrados em área indígena, mais da metade -- 23.292 -- foram na Terra
Yanomami.
Neste
ano, até agosto, esse número já alcançou os 16.982 casos, o que dá uma média
semanal de 472 casos positivos da doença. Caso siga desta forma, o MPF acredita
que o ano de 2021 deve fechar com um número muito próximo ao de 2020.
"Pouco
se avançou no combate ao surto de malária que vivencia atualmente a Terra
Indígena Yanomami", afirma o procurador, ao cobrar um plano de
enfrentamento à doença ao Dsei-Yanomami.
O
problema da malária é atribuído pelos representantes do Dsei-Yanomami a fatores
como presença de garimpeiros nas comunidades, número insuficiente de agentes in
loco, falta de equipamentos para controle do vetor da doença, tratamento
descontinuado, falta de treinamento dos Agentes de Saúde Indígena e falta de
alimentação nos postos de saúde.
Assim
como acontece com a desnutrição, quando o paciente agrava o quadro de malária,
ele é removido a Boa Vista. Dados do Hospital da Criança indicam que, entre
2016 e de julho de 2021, foram atendidas 178 crianças com malária na unidade
--- 138 delas eram menores de 5 anos, o equivalente a 77,5%.
"A
saúde Yanomami está sofrendo muito na floresta. Sem atendimentos nas
comunidades, sem profissionais. Não tem atuação do Dsei, da Sesai. As
consequências disso são as mortes. As doenças que mais nos atingem são malária,
desnutrição e pneumonia. Nessas visitas, o que mais me dói é ver as crianças
doentes, sem atendimentos, e as mães chorando, pedindo por socorro", diz
Hekurari, presidente do Condisi-YY, que fiscaliza as ações de saúde.
Para
o missionário Carlo Zacquini, que atuou por mais de 50 anos na Terra Yanomami,
a situação dos indígenas reflete uma dura luta pela sobrevivência frente à maneira
deliberada como o garimpo avança.
"Não
tem como dizer que não sabe o que acontece. Os responsáveis deveriam ser
processados. Isto é a mesma coisa que um genocídio", avalia.
O
presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), é um dos que defendem a
exploração mineral em terras indígenas, posicionamento criticado por
ambientalistas que consideram um afrouxamento do combate a crimes ambientais.
Garimpos
bem estruturados
Em
contraste com a dura realidade enfrentada pelos Yanomami, garimpos dentro da
reserva contam com estrutura de TV a cabo, internet, energia elétrica, locais
de prostituição e até mercados - e avançam como se fossem minicidades no meio
da floresta.
Muitas
vezes, o entorno das comunidades é dilapidado pela degradação. É o caso de
Homoxi, em que o quintal do posto de saúde são as enormes crateras abertas no
solo devido à exploração.
Os
indígenas de Homoxi vivem em meio ao garimpo. A pista de pouso usada pelo
Dsei-Y para levar medicamentos e servidores é a mesma usada pelos garimpeiros.
Foi nesta mesma localidade que o jovem Edgar Yanomami morreu aos 25 anos ao ser
atropelado por um avião de garimpeiro, em julho deste ano.
Ainda
em outubro, a Polícia Federal deflagrou operação para destruir essas estruturas
usadas pelos garimpeiros ilegais, incluindo em Homoxi, onde um avião e seis
motores foram incendiados no chamado "garimpo do Jeremias".
Houve
incursões, ainda, nos garimpos da Adriana, região de Parima, e do Capixaba, no
Alto Mucajaí, a 5 km da fronteira. Nos dias de operação, foram apreendidas três
armas, 40 munições, 1Kg de mercúrio, um GPS aeronáutico, 54 motores, 14
geradores de energia, quatro antenas de internet via satélite e 4 mil litros de
combustível.
O
delegado Luiz Flávio Zampronha, diretor de investigação em combate ao crime
organizado da PF, explica que a atividade do garimpo tem por trás "grupos
econômicos".
"Geralmente,
essas ações [grandes estruturas e exploração] são patrocinadas por grupos
econômicos que possuem condição de sustentar a logística da atividade. A gente
sabe que existe, sim, um financiamento, um investimento por trás dessa
atividade ilegal", afirma. Além disso, há suspeita da atuação do crime
organizado junto aos garimpeiros em serviços de escolta armada e até ataques a
comunidades.
Cobranças
ao governo federal
Para
o gerente de povos isolados da Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab), Luciano Pohl, que acompanhou a missão conduzida
pelo Condisi-YY, da qual a reportagem fez parte, a situação em que vivem os
indígenas de comunidades Yanomami reflete a completa ausência do governo
federal.
Segundo
ele, é um cenário "que necessita de cuidados emergenciais" e
"que a falta do estado está gerando um problema seríssimo para a população
Yanomami".
"O
estado está ausente, incapaz e inoperante. A gente vê uma estrutura do Dsei
precária para atender a todas as comunidades, pouca gente, pouco remédio. A
gente não vê a Funai. Chegamos a perguntar [aos indígenas] sobre a Funai e eles
mal a conhecem. Então, isso é uma grande falta", diz.
Procurada,
a Funai ainda não enviou resposta.
A
saída para mudar a situação, de acordo com Pohl, seria a retirada do garimpo,
causador da desestruturação social, e investimento em projetos que consigam
garantir aos Yanomami o sustento por meio da terra onde vivem. Durante a ação,
a Coiab, com o apoio do Greenpeace, doou cestas básicas para serem distribuídas
a comunidades com pessoas doentes.
O
vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, também faz críticas ao governo
federal e ao Ministério da Saúde por, segundo ele, "não olharem" para
o povo Yanomami.
"A
Hutukara sempre denuncia, cobra, porque nossos parentes, nossas crianças estão
morrendo, mas não recebemos respostas. É revoltante. Sinto raiva", diz.
Dário,
ao lado do pai, Davi Kopenawa Yanomami, líder indígena conhecido
internacionalmente, atua à frente da Hutukara na defesa do povo Yanomami. A
luta deles perpassa, principalmente, pelo desejo de que os Yanomami sejam
tratados e reconhecidos como os únicos e legítimos donos da floresta onde
vivem, com a garantia de direitos como acesso à saúde de qualidade e vida
digna.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
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