Maior símbolo da resistência negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares era refúgio para os povos escravizados no século XVII. Localizado na Serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas, o local que um dia esteve sob o comando do líder guerreiro Zumbi dos Palmares é hoje patrimônio internacional e destino turístico cada vez mais procurado.
Monumento no Quilombo dos Palmares faz homenagem aos antigos habitantes — Foto: Waldson Costa/G1
Com
a retomada do turismo e as comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra,
celebrado neste sábado (20), a expectativa é de que dobre o número de
visitantes. Somente neste fim de semana a região deve receber cerca de 10 mil
pessoas para acompanhar apresentações culturais, religiosas e artísticas.
“De
agora até abril o fluxo de visitas aumenta muito. Isso está associado à alta
temporada do Estado de Alagoas. No domingo passado nós tivemos 800 pessoas
visitando o parque para participar do Pôr do Sol na Serra, um projeto cultural
com a apresentação de artistas locais e com uma belíssima vista”, explicou Izabel
Gomes, secretária municipal de Turismo de União dos Palmares.
Zumbi
e o Quilombo dos Palmares
Zumbi
dos Palmares nasceu em 1655, em Alagoas. Foi um dos principais representantes
da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial e líder do
Quilombo dos Palmares, a mais significativa comunidade formada por escravizados
fugitivos das fazendas.
O
Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado na data da morte de Zumbi,
assassinado em 20 de novembro de 1695, durante uma emboscada ordenada pelo
governador e capitão-general da então capitania de Pernambuco, Caetano de Melo
e Castro, para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região. Sem
a liderança de Zumbi, por volta de 1710, o quilombo se desfez.
Conheça
a história da vida e da morte de Zumbi dos Palmares
Séculos
se passaram, até que em 1985 o Quilombo dos Palmares foi tombado pelo Iphan
como Patrimônio Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Um outro
título veio em 2017, o de Patrimônio Cultural do Mercosul, concedido pela
Comissão de Patrimônio Cultural do bloco econômico formado por Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai.
Serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas, abriga o antigo Quilombo dos Palmares — Foto: Reprodução/TV Gazeta
“Enquanto
isso, já havia milhares de templos religiosos e palácios tombados no Brasil.
Ser esse espaço tão importante para o resgate da nossa história como povo
ajudou, já naquela época, a trazer essa discussão sobre o que era preciso ser
feito para rever o modo de contar a história do povo indígena e do povo negro
de Alagoas”, afirma o professor Zezito.
Para
Danilo Luiz Marques, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e
diretor do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), os processos
de tombamentos e as pesquisas sobre a resistência negra fazem aumentar as
visitas à Serra da Barriga, que abriga o antigo quilombo.
“O
Quilombo dos Palmares é estudado em todo o mundo, recentemente um pesquisador
alemão esteve em Alagoas pesquisando sobre o tema para sua tese de doutorado.
Outro ponto importante foi o tombamento da Serra da Barriga pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na década de 1980 e, mais
recentemente, pelo Mercosul”, explicou o professor.
Mas
não só isso. Os pesquisadores concordam que a morte do americano George Floyd
acendeu um debate mundial sobre os espaços de memória, ou seja, a forma como a
história sempre é contada pelo viés colonial. Danilo Marques afirma que esse
debate reacende a importância das reafirmações das identidades étnicas.
“No
Brasil, isso refletiu com os questionamentos sobre os bandeirantes, sobre a
figura do Borba Gato, no estado de São Paulo, e de Domingos Jorge Velho, em
Alagoas. Isso ainda é somado ao protagonismo negro dentro de espaços
importantes do mercado de trabalho, com a presença de profissionais negros
ascendendo a cargos importantes e apontando para alguns destinos que contrapõem
essas narrativas”, esclarece Marques.
Zezito
Araújo reforça essa teoria, destacando o esforço para reverter a forma como
figuras de escravocratas e de pessoas que promoveram o genocídio de nações
indígenas ainda são vistas como personalidades importantes na história do
estado, mas sem o devido olhar crítico.
"Olha,
o movimento negro está trazendo novas releituras. Já há em alguns municípios um
movimento para contar a história do nosso estado do ponto de vista em que os
indígenas e negros são os protagonistas da história. Mas há lugares, como o
Município de Atalaia, que dão destaque como heróis para figuras como Domingos
Jorge Velho que participou do extermínio de vários aldeamentos”, ressalta
Zezito.
O
bandeirante Jorge Velho, citado pelos dois pesquisadores, foi o homem
contratado pelo governador da capitania de Pernambuco para pôr fim à
resistência no Quilombo dos Palmares, que passou a ser atacado com um
contingente de 6 mil homens armados. Foi sob pressão do bandeirante que o
quilombola Antônio Soares, após ser capturado, entregou Zumbi.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
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