O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) trocou o armazenamento das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em São Paulo. Pela primeira vez em 12 anos, os malotes impressos na gráfica não ficaram sob a guarda do Exército Brasileiro no período de várias semanas entre a impressão na gráfica em São Paulo e a distribuição pelo Brasil.
Caderno de provas do Enem — Foto: Ana Carolina
Moreno/G1/Arquivo
“Em
termos de logística, da equipe técnica, alinhando com os Correios, decidiu
encaminhar para os Correios, para ampliar um pouco essa parcela de avaliações
lá em Cajamar”, afirmou Dupas aos senadores.
Segundo
ele, 28 unidades do Exército ainda estão ajudando no armazenamento das provas
pelo Brasil. A produção da TV Globo apurou junto ao Exército que esse número é
35% menor que no Enem 2020, e não inclui qualquer unidade da Região Sudeste do
país.
Ampliação
do papel dos Correios no Enem
Os Correios,
historicamente, ficavam responsáveis pelo transporte das provas do Enem em todo
o país, de avião, por estradas ou até em barco. Mas mesmo o transporte delas é
realizado com escolta da Polícia Rodoviária Federal e das polícias estaduais.
Ao
chegarem nos estados, e antes de serem levados até os locais de provas, os
malotes são guardados em centros descentralizados de armazenamento, sob a
guarda de diversas entidades, como o próprio Exército, os Correios e as
polícias estaduais.
Em
nota à TV Globo, a Polícia Federal afirmou que “dois peritos criminais federais
lotados na Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo”
realizaram em 23 de setembro uma vistoria no Centro de Distribuição dos
Correios em Cajamar para o armazenamento das provas.
“Importante
ressaltar que o acompanhamento se deu a pedido dos representantes do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira”, afirmou a PF.
Ainda segundo a nota, “o Centro de Distribuição dos Correios de Cajamar foi
considerado satisfatório para o armazenamento das provas pelos Peritos
Criminais Federais, se tratando de um local considerado com a segurança
adequada”.
Dupas, na audiência no Senado, agradeceu por duas vezes a participação dos Correios na logística do exame. “Interessante também destacar o grande apoio dos Correios. Eu estive em contato diversas vezes com o presidente Floriano. Foram conversas excepcionais de apoio, de sinergia, o quanto os Correios têm auxiliado o Enem historicamente. ”
Papel
do Exército na segurança do Enem
O
Exército assumiu a função de guardar as provas em segurança desde que, na
primeira edição do Enem, em 2009, o armazenamento era feito na própria gráfica,
e um dos funcionários roubou uma das provas, o que provocou o adiamento do
exame em dois meses, no maior escândalo em 23 anos do exame.
Tradicionalmente,
os malotes passavam as semanas entre a impressão e a distribuição sob guarda
por 24 horas dos membros do 4º Batalhão de Infantaria Leve (BIL) do Comando
Militar do Sudeste, em Osasco, na Grande São Paulo. Segundo ex-membros do Inep
responsáveis por edições passadas do Enem, o Exército chegou a erguer um galpão
especificamente para garantir o armazenamento com segurança dos malotes.
Todos
os anos, a data de início da distribuição dos malotes pelos Correios era
marcada por um evento público no batalhão em Osasco envolvendo todas as
autoridades participantes do processo. Em 2020, mesmo em meio à pandemia, o
evento foi realizado 37 dias antes da primeira prova do exame (veja imagem
abaixo).
Fontes
ouvidas pela TV Globo confirmaram que, neste ano, o evento não aconteceu.
Procurada, a assessoria de imprensa do Inep não respondeu aos questionamentos
por e-mail, nem atendeu aos telefones ou respondeu às mensagens enviadas desde
a tarde de terça-feira (16).
O
Comando Militar do Sudeste confirmou que, “neste ano, o armazenamento das
provas do Enem não está a cargo de nenhuma unidade do Comando Militar do
Sudeste”. O comando responde pelas 132 unidades do Exército Brasileiro
localizadas em São Paulo.
A
assessoria do Exército em Brasília confirmou que o Enem 2021 vai ter um terço a
menos de unidades dando apoio à segurança pelo Brasil, nenhuma delas na Região
Sudeste.
“Em
2021, 28 organizações militares do Exército Brasileiro apoiam o armazenamento das
provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em municípios das regiões
Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Em 2020, o apoio foi prestado por 43
organizações militares e incluiu a Região Sudeste”, afirmou o Exército, em nota
à TV Globo.
Para
especialista, faltou transparência na mudança
De
acordo com Olavo Nogueira Filho, diretor executivo do Movimento Todos pela
Educação, a mudança no esquema de armazenamento das provas não necessariamente
coloca em risco a segurança do exame, mas a falta de transparência no processo
"coloca em risco a credibilidade" do Enem.
"Isso
significa que nós necessariamente teremos problemas na aplicação do Enem? Não,
não significa isso. Mas fato é que o governo, sem dúvida alguma, adicionou
algumas camadas de risco a uma operação já bastante complexa", afirmou
ele.
"Por
isso é tão importante que o governo, tanto o Ministério da Educação quanto o
Inep, as lideranças do Inep, prestem todos os esclarecimentos que precisam ser
apresentados para garantir uma segurança e uma confiança e transparência
necessárias para que o Enem possa ocorrer de forma consistente e pra que as
pessoas que farão parte se sintam seguras."
Entenda
como é feita a segurança do Enem
1 O
processo entre a escolha das questões e a entrega dos cadernos de provas aos
candidatos e candidatas leva vários meses e envolve diversas entidades e
milhares de pessoas. As principais etapas são:
2 Uma
equipe de especialistas do Inep acessa o Banco Nacional de Itens (BNI), um
banco de dados protegido dentro de uma sala segura e com acesso limitado no
prédio do Inep, em Brasília, onde ficam armazenadas as questões já elaboradas e
“calibradas” para o Enem;
3 Cada
uma das quatro provas objetivas precisa ter 45 questões, mas o conjunto delas
precisa ter uma quantidade equilibrada de perguntas de nível baixo, médio e
alto de dificuldade, para que o exame cumpra os objetivos metodológicos;
4 As
questões selecionadas passam por uma revisão técnica e, então, a prova é
diagramada ainda no Inep;
5 O
arquivo com a prova é criptografado e transportado até a gráfica, em São Paulo,
de avião, com procedimentos específicos de segurança;
6 Já
a senha para abrir o arquivo também viaja de avião até São Paulo, mas em outra
data;
7 Na
gráfica, todas as pessoas que manuseiam as provas são vigiadas por câmeras
monitoradas em tempo real em outra área da gráfica. Para acessar a área de
impressoras é preciso passar por uma série de vistorias, e mesmo o próprio
presidente do Inep é submetido a essas medidas;
8 Findo
o processo de impressão, as provas são fechadas dentro de malotes com lacre
eletrônico. Essa medida de segurança permite que o Inep saiba quando cada
malote foi aberto, para rastrear possíveis vazamentos durante as etapas de
armazenamento e distribuição;
9 Historicamente,
após a impressão, as provas eram escoltadas até o 4º Batalhão de Infantaria
Leve de Osasco (4º BIL) do Exército Brasileiro, onde, segundo fontes ouvidas
pelo G1, um galpão foi erguido só para essa missão. No Enem 2021, o local de
armazenamento mudou para um centro de distribuição dos Correios em Cajamar;
10 Cerca
de um mês da aplicação das provas, os Correios começam a distribuição dos
malotes pelo Brasil;
11 Em
2020, a distribuição das provas, segundo o próprio Inep, contou com 226
carretas e caminhões dos Correios e foram feitas 41 viagens aéreas e 157
terrestres, com escolta da Polícia Rodoviária Federal e das polícias estaduais.
Em cada estado, até a véspera da prova, o armazenamento também foi feito em
unidades estaduais do Exército. Neste ano, o Inep, até a tarde desta quarta
(17) não informou como está sendo feito o armazenamento;
Na
última viagem até o local de provas, as polícias também escoltam os cadernos de
prova. Os malotes só podem ser abertos no horário de início do exame.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: g1
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