O Ministério Público de Minas Gerais e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado vão investigar a operação que terminou com 26 supostos criminosos mortos e nenhum policial ferido na madrugada de domingo, em Varginha. A Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas Gerais, também vai acompanhar os trabalhos em função, principalmente, do elevado número de óbitos.
Vinte
e seis suspeitos foram mortos na operação, que apreendeu também grande
quantidade de armas (Divulgação / PM Minas Gerais)
Os
supostos criminosos mortos são suspeitos de integrar uma quadrilha
especializada em assaltos do chamado "novo cangaço". A suspeita da
polícia, é que o bando participou do assalto em Araçatuba, no interior de São
Paulo, quando explodiram dois bancos. Na ação, os bandidos usaram reféns como escudos
humanos, enfrentaram a polícia e minaram o centro da cidade com explosivos para
espalhar pânico entre a população.
O
promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado do MP-MG, Igor Serrano, que está de férias, disse ao Estadão
que o órgão se reunirá na quarta-feira, em Varginha, para definir uma comissão
e as estratégias de ação. "Antes de qualquer manifestação, vou me inteirar
dos acontecimentos", disse ele.
Todos
os 26 corpos foram levados para o IML de Belo Horizonte, que havia identificado
oito deles até as 18h, todos procedentes de Uberaba, no Triângulo Mineiro. Um
homem que seria o caseiro de um dos dois sítios que a quadrilha mantinha como
base está entre os óbitos. Segundo a PM, ele integrava o bando.
Nesta
segunda-feira, 1º, a médica legista Tatianas Telles informou que os dados
coletados pela Polícia Civil serão encaminhados a um banco nacional de DNA.
"Temos a possibilidade de fazer match com locais de crime no Brasil, se
praticaram algum crime em outro estado inserido no banco", afirmou.
Parentes aguardavam a identificação dos corpos na sede do IML, no bairro Gameleira.
A Polícia Civil não participou da ação, mas instaurou inquérito para seguir com
as investigações.
Rômulo
Ferraz, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, disse ao Estadão
que já designou uma representante para acompanhar os trabalhos do MP e da
Polícia Civil em Varginha. "É prematuro tirar qualquer conclusão, mas o
elevado número de óbitos chama a atenção", afirmou.
A
deputada estadual Andreia de Jesus (PSOL-MG), presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Assembleia, disse entender que "existe violação de
direitos porque a operação terminou com um grande número de mortos e não
prendeu ninguém". A parlamentar afirmou também que a Polícia Militar não
conseguiu mostrar que houve, efetivamente, troca de tiros. Para ela, não há
sinais de confronto.
"Em
uma operação pensada com estratégia, teríamos menos mortes ou nenhuma, já que o
objetivo deve ser prender e investigar. A população entende que a polícia
julgou e condenou esses supostos criminosos", disse a deputada.
O
doutor em sociologia Luiz Felipe Zilli, pesquisador da Fundação João Pinheiro e
membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, criticou a operação. "A
morte de todos os suspeitos sem que nenhum tenha sido preso representa um
fracasso operacional inquestionável". Para ele, a prisão de suspeitos com
vida seria fundamental para as investigações, uma vez que tratam-se de grupos
muito articulados e organizados.
O
especialista também questiona a ausência da Polícia Civil na ação. "Se os
serviços de inteligência da PM já sabiam da localização da quadrilha em dois
sítios, por que a Polícia Civil não participou da operação?". Segundo ele,
não há como saber se houve, de fato, confronto, mas a operação deve ser
investigada. "Consideramos uma ação bem sucedida quando ela tem baixo número
de mortos e alto número de prisões", afirma.
PM
rebate críticas
O
chefe de jornalismo da Polícia Militar de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio
Santiago, disse que as críticas refletem desconhecimento de questões
operacionais envolvendo "quadrilhas de alto índice de beligerância".
Ele citou a apreensão de armas de guerra - como uma .50 com poder de fogo
contra tanques e blindados - além mais de 5.000 munições.
"São
pessoas que não se entregam, utilizam às vezes até cocaína e outros
alucinógenos para aumentar a capacidade de enfrentamento", justificou o
tenente-coronel. Para ele, sugerir que a ação teve indícios de execução e
"analisar um fato desse numa mera matemática de equilíbrio é infame".
Santiago diz que a ausência de policiais feridos se deve ao fato de que o
elemento surpresa estava com a corporação.
Da Redação/Viva
Notícias
Fonte: O liberal
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