O prolongamento da pandemia de covid-19 e a redução da procura de serviços médicos por parte das mulheres têm preocupado especialistas da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Segundo a entidade, houve queda de 70% na presença de mulheres nas unidades hospitalares.
No
Outubro Rosa, mês de conscientização sobre a importância da prevenção e do
diagnóstico precoce do câncer de mama, a entidade reforça a importância da
realização de exames preventivos e visitas regulares ao médico.
A
campanha Quanto Antes Melhor chama a atenção para a necessidade de adoção de um
estilo de vida que inclua a prática de atividades físicas e uma alimentação
saudável, minimizando riscos não só do câncer de mama, como de muitas outras
doenças. Outra mensagem-chave da entidade diz respeito ao início imediato de
tratamento, logo após o diagnóstico, aumentando a sobrevida e chances de cura
da paciente.
O
presidente da SBM, o médico mastologista Vilmar Marques, alerta que o atual
contexto requer muita atenção devido ao quadro pandêmico que reduziu a procura
e a realização de exames preventivos.
De
janeiro a julho de 2020, o número de mamografias realizadas caiu 45% em relação
ao mesmo período do ano anterior, segundo pesquisa da Rede Brasileira de
Pesquisa em Câncer de Mama, em parceria com a SBM.
"Mastologistas
da SBM em todo o Brasil monitoraram essa movimentação que, certamente, variou
de região para região, porém em todo o território nacional houve queda na
procura por exames preventivos e tratamento", afirma Marques.
O
especialista alerta que as consequências da redução do rastreamento no último
ano não são boas. “O câncer não espera. As mulheres que deixaram de realizar os
exames preventivos correram e correm o risco de, se diagnosticadas, terem
avançado na doença, pois de um modo geral, o tumor demora cerca de 10 anos para
atingir um centímetro, porém, a partir daí a cada 6 meses tende a dobrar de
tamanho, avançando muito rapidamente, claro, tendo suas especificações de tipo
de câncer”, alerta.
Por
isso, o diagnóstico precoce é tão importante. “Insistimos na mensagem do
diagnóstico precoce porque realmente ele é determinante para a paciente e suas
chances de passar por tratamento e cirurgias menos invasivas, além da real
chance de cura. No Brasil, cerca de 25% a 30% dos cânceres de mama são
diagnosticado em estágio avançado”, afirma o médico.
Para
ele, a crise econômica causada pela pandemia, que levou muitas famílias a abandonarem
seus planos de saúde, é um dos um dos motivos pela baixa procura nos exames,
mas não o principal. “Este é um dos fatores, mas não o principal. O principal
foi o isolamento social, sem dúvida alguma”.
“Compreendemos
a nossa impotência diante da pandemia e do isolamento social que foi necessário
em certo período. Mas, agora, com o avanço da vacinação, é primordial que não
só seja retomada a rotina de tratamento, como acelerada. Quanto antes retomar,
melhor", alerta o mastologista.
Confiança
na cura
A
costureira Maria Gorete da Costa Majewski conta que sempre foi muito cuidadosa
com a sua saúde. Por isso, apesar da pandemia, não deixou de fazer as consultas
e os exames de rotina. Foi numa dessas consultas que ela descobriu o câncer de
mama, aos 61 anos.
“Havia
feito a mamografia em setembro de 2020 e meu médico me deu o pedido para
fazê-la novamente no começo deste ano. Fiz na primeira semana de março. Quando
levei para o meu ginecologista, notei que o semblante dele ficou diferente ao
verificar as imagens. Ele é meu médico há 34 anos e me encaminhou para uma
mastologista de confiança. Na mesma semana consegui marcar a consulta e levei a
mamografia para ela ver. A partir daí começou a minha luta, fiz diversos
exames, até chegar na biópsia que constatou o linfoma muito invasivo.”
Ela
acredita que ter mantido os exames de rotina em dia, apesar da pandemia, a
ajudou a descobrir logo a doença. “Mesmo estando numa pandemia não deixei de
fazer meus exames de rotina, foi minha sorte. Quando soube do resultado da
biópsia, a primeira reação é de questionar: por que eu que sempre faço meus
exames em dia estou com esta doença? Mas, depois, mais calma, aceitei que não
sou melhor que ninguém, vou enfrentar essa doença. Em nenhum momento tive medo
de começar o tratamento por estarmos em uma pandemia, só pensei que precisava
me livrar dessa doença.”
Maria
Gorete fez uma cirurgia e segue com o tratamento. “A mesma mastologista que me
acolheu desde o início fez a minha cirurgia. O linfoma tinha seis milímetros.
Estou fazendo quimioterapia branca, são 12 sessões e já fiz dez, faço toda
sexta-feira e a cada 21 dias tomo uma vacina. Quando acabar as quimioterapias,
iniciarei as sessões de radioterapia que serão 15, de segunda a sexta. O
tratamento é longo, não é fácil, acho que o pior, para mim, foi quando tive que
raspar minha cabeça, estou careca, usando touca o dia todo, não consigo me ver
sem cabelo o dia todo, consegui uma peruca numa ONG, mas não é a mesma coisa
que ter o nosso cabelo.”
A
costureira, que mora em Belo Horizonte, aconselha a todas que estão começando
ou já fazem tratamento a não pensar no lado negativo. “É uma fase ruim que
iremos vencer, não descuide da saúde, se alimente direito, viva um dia de cada
vez, sem pensar no pior, somos fortes.”
Ela
ainda faz um alerta para quem deixou de ser cuidar durante a pandemia. “O
câncer parece que veio com força total na pandemia, muitas pessoas não estão se
cuidando, fazendo os exames de rotina. Não foi o meu caso porque sou muito
taxativa quando se trata de saúde e, mesmo assim, estou enfrentando a doença.
Espero poder ajudar a alertar as pessoas que não estão se cuidando.”
Rastreamento
seguro
Para
quem ainda não fez exames de rotina desde o início da pandemia e continua com
receio de se expor aos ambientes clínicos e hospitalares, o presidente da SBM
reforça que os locais estão aptos a atender as pacientes de forma segura.
“Todo
o atendimento, seja no consultório, seja nas unidades hospitalares e centros
cirúrgicos, está sendo realizado seguindo todos os protocolos sanitários e de
segurança, respeitando rigorosamente as medidas de higienização que garantam a
integridade de pacientes e equipe médica”.
Para
quem acha que o autoexame é suficiente, o especialista afirma que ele é
importante, mas deve ser associado ao exame clínico. “Conhecer o corpo é de
extrema importância para qualquer indivíduo, principalmente, a mulher. O
autoexame possibilita você se conhecer, porém ele não basta. O exame clínico
realizado pelo mastologista somado aos exames de imagem, dentre eles, a
mamografia, que é o mais eficaz para detectar o câncer de forma precoce, são
insubstituíveis”.
Fatores
de risco
A
SBM informa que diversos estudos revelam que o sobrepeso e a obesidade, além da
falta de atividades físicas no dia a dia, aumentam os riscos para câncer de
mama e ainda proporcionam uma má qualidade de vida para quem está em
tratamento.
Um alto índice de massa corporal (IMC) no momento
do diagnóstico pode reduzir a eficácia da quimioterapia à base de taxano,
piorando os resultados de sobrevida. O taxano é uma droga lipofílica, assim a
gordura presente no corpo da paciente pode absorver parte da droga antes que
ela atinja o tumor. De acordo com esses estudos, pacientes com sobrepeso e
obesidade tratadas com um regime de quimioterapia baseado no taxano tiveram
sobrevida livre de doença e sobrevida global significativamente pior em
comparação com pacientes magras tratados com o mesmo regime.
“O
estilo de vida é determinante nesse sentido. Por isso, estamos pelo segundo ano
consecutivo com o nosso mote Quanto Antes Melhor, visando a chamar a atenção da
população para algumas medidas que amenizam esses riscos. Como a rotina de
saúde preventiva, visitando regularmente o mastologista e, as mulheres a partir
dos 40 anos, realizando anualmente a mamografia, pois o diagnóstico precoce é
fundamental para evitar cirurgias radicais, além de aumentar consideravelmente
as chances de cura”, reforça o Marques.
Dicas
de hábitos para uma rotina saudável:
•
Alimente-se bem e não fique muito tempo sem comer, ou seja, prefira comer em
intervalos menores, em pequenas quantidades. Priorize os alimentos naturais e
evite os alimentos industrializados.
•
Evite o excesso de gorduras e carboidratos simples, como açúcar adicionado aos
alimentos, doces, sucos de caixinha ou saquinho, refrigerantes, pão branco,
macarrão, sempre preferindo as opções integrais.
•
Procure ingerir proteínas de boa qualidade, principalmente frutas, legumes e
verduras por serem fontes de vitaminas e minerais essenciais e ricas em fibras
que ajudam na saciedade e no funcionamento adequado do intestino.
•
Faça exercícios físicos durante a semana. O ideal são 150 minutos de exercícios
físicos moderados divididos entre os cinco dias ou 75 minutos de exercícios
vigorosos divididos pelos dias da semana.
•
Planeje o seu dia alimentar e tente segui-lo.
Da
Redação/Viva Noticias
Fonte: Agência Brasil
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